Ingrid Conte revisita trajetória na atuação e celebra trabalho em Reis: ‘Experiência que mais me transformou’
Após viver Naamá por mais de dois anos na superprodução, atriz relembra início de carreira, fala sobre veganismo e a importância da dança na sua vida
Tudo de Record|Gabriel Alberto, do R7
“Se a gente coloca amor em tudo o que faz, com certeza o resultado vai ser compatível com a nossa entrega”, definiu Ingrid Conte, que esteve imersa na superprodução Reis da primeira cena da estreia de A Decepção às sequências finais da décima temporada, A Decadência, totalizando mais de 300 episódios que foram ao ar na RECORD. No início, ela teve a missão de conduzir o público pela história, como a narradora misteriosa e, somente após mais de um ano, os fãs descobriram a identidade da personagem, Naamá.
Ao longo dos episódios, Ingrid arrebatou o público como o ‘amor de Salomão’ (Guilherme Dellorto) e conquistou uma posição central na história, cercada de conflitos e uma forma de amar complexa e difícil.
A atriz conversou com o R7 Entrevista sobre o encerramento de um ciclo de dois anos e meio, além de refletir sobre a sua trajetória e temas que a movem, como o veganismo e a dança.
No bate-papo, ela revelou que foi uma criança tímida, algo difícil de acreditar ao ver o furacão de alegria e simpatia que sempre a acompanharam nos bastidores, junto ao sorriso acolhedor que ilumina os caminhos por onde passa. Confira!
R7 Entrevista: O que Reis representou para a sua vida?
Ingrid Conte: É difícil definir em uma palavra, mas foi a maior experiência da minha vida, o trabalho que mais me transformou, inclusive na minha vida pessoal. Tive a oportunidade, além dos personagens diferentes [Ingrid também interpretou Áshima e Adara na série], de defender uma personagem como a Naamá, do início ao fim da vida dela, com todas as transformações e tantos altos e baixos. É um presente para qualquer ator. E fora isso, participei de outros projetos aqui na casa, como o programa Backstage [no canal da série no Youtube], onde também me aventurei como repórter, e os workshops de dança, canto [entre outros]. Tudo veio a partir da personagem e me agregou muito conhecimento artístico. Foi o projeto mais enriquecedor da minha vida. Tive a Fernanda [Guimarães, preparadora de elenco] ao meu lado para me ajudar a construir todas essas nuances de forma sutil. Até por isso me senti muito desafiada no projeto, o tempo inteiro, nunca chegou em um momento de relaxar e brincar, sempre me senti instigada a descobrir novas coisas. Foram dois anos e meio em um projeto, mas que é como se eu tivesse vivido vários projetos em um só.
“Foi o projeto mais enriquecedor da minha vida”
R7: E como a Ingrid saiu deste projeto?
Ingrid: Acho que ficou mais claro para mim o que existe de mais importante em viver um projeto como esse. E independente do resultado que se atinja, o mais importante são as relações. É a troca dentro do trabalho. Se não existe amor e respeito, se perde 90% do que poderia ser o projeto. Somos uma família nesse sentido, se a gente coloca amor em tudo o que a gente faz, com certeza o resultado vai ser compatível com a nossa entrega.
R7: Naamá conquistou o público, como você enxerga a relação dos fãs com a personagem?
Ingrid: Não esperava essa proporção. Acho que rolou muita identificação porque a Naamá é muito humana. A Naamá representa o ser humano mais comum, com seus erros, defeitos e qualidades, que busca melhorar. E que erra às vezes tentando acertar. Ela nunca foi uma vilã, cruel. Ela era refém das próprias emoções e se atropela nesse processo. Agradeço demais todos os dias o tanto de pessoas que conheci e que se sentiram afetadas pela história da Naamá. Tanto as que gostam ou não dela. Se existe alguma emoção é porque existe algum grau de identificação e esse é o barato da arte, ela não vem para trazer verdades, traz reflexões e cada um se identifica ou não com o que foi mostrado. Agradeço a toda a energia que esse trabalho trouxe na minha vida. Você sente o quanto a vida é impactada pela história. Conheço uma fã que me contou que toda a história da Naamá tirou ela de um quadro depressivo. A partir da personagem, ela entrou em contato com outras pessoas e criou uma rede que tinha algo em comum e conseguiu sair desse quadro.
R7: Como a arte chegou até você e como fala por meio dela?
Ingrid: Comecei a estudar teatro aos 12 anos. Na verdade, nunca tive uma referência familiar que me puxasse para isso, mas sempre tive uma inquietação muito grande de poder me expressar. Mesmo sendo uma criança muito tímida como sempre fui, enfrentava isso. Estudei teatro, fiz parte de uma companhia por anos, aprendi sobre coletividade, do coletivo da arte. Comecei a trabalhar com audiovisual aos 18 anos, só que participei de um concurso ao vivo para escolher uma atriz e tomei meu primeiro ‘não’ ali, não tinha maturidade para lidar com isso e desisti.
“Larguei tudo para enfiar de vez as caras no mundo das artes”
Fui fazer outra faculdade, de Ciências Atuariais, que não tem nada a ver [com arte], fazer cálculos. Quando me formei, fui contratada no lugar que fazia estágio, mas com menos de um ano pedi para sair. Não me identifiquei, não me sentia feliz, tinha algo que faltava. Larguei tudo para enfiar de vez as caras no mundo das artes. Fui fazer Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e, de lá para cá, comecei a trabalhar, a fazer muita publicidade e cinema. Conheci o Foguinho [como Rudi Lagemann é chamado de forma carinhosa nos bastidores], nosso diretor-geral, e fiz [a série] Conselho Tutelar, em 2015, com ele. Foi meu primeiro trabalho na RECORD. Antes disso eu tinha feito outras coisas, mas aqui na emissora meu primeiro trabalho foi esse.
R7: Por que você buscou outras profissões se a arte falava tão alto na sua vida?
Ingrid: Acho que eu tinha medo. Sempre desejei muito ser atriz, sempre gostei e fui feliz, mas tinha medo dessa instabilidade. É engraçado que quando olho para trás não me arrependo de ter esses gap’s [momentos fora da atuação] porque sinto que passei a ter muita certeza [do que queria] nesses momentos em que não estive na profissão.
Percebi que apesar da segurança que outras profissões proporcionavam, não era feliz. Então qual era a minha prioridade? Ser feliz ou ter segurança? A minha prioridade era ser feliz. Se em algum momento viesse uma segurança a partir do que eu fazia, tranquilo, mas se não viesse tudo bem porque eu queria ser feliz.
“Sempre desejei muito ser atriz e a minha prioridade era ser feliz”
R7: Como é esse lado tímida da Ingrid? Por que quem te vê aqui nos bastidores ou nas redes sociais não acredita nisso...
Ingrid: Acho que perdi o lado tímida, ficou lá atrás. Não, mas é engraçado porque eu era uma criança muito tímida mesmo, a ponto de passar na rua de cabeça baixa para não ter que falar com ninguém. Aí acho que entra o teatro. Ele vai te trazendo um lugar de olhar para dentro de si para você ter o autoconhecimento e ajuda a criar a autoconfiança. Você se abre mais.
R7: Olha para si e passa a se sentir confortável sendo você...
Ingrid: Você vê toda a diversidade que existe dentro do teatro. E aprende a enxergar as diferenças, que a beleza também está na diferença. E para de tentar se adequar a um padrão, ao que a sociedade impõe como padrão. A arte tem muito essa função de questionar. O teatro faz com que você reflita sobre isso e vai encontrando conforto dentro da sua especificidade, do que você é.
R7: Qual a mensagem busca transmitir por meio da arte e nesse lugar de influência sobre as pessoas, já que além da TV, também é bastante ativa nas redes sociais?
Ingrid: Espero que a minha arte sempre venha a partir de um lugar de encorajamento, de fazer com que pessoas que não se sentem bem ou não se sentem confiantes, ganhem o mínimo de confiança ali para exercer seu lugar no mundo. Para que as pessoas acreditem que elas podem chegar aonde elas querem, basta a gente ter pensamento e ações que sejam alinhadas. Então espero que a partir da minha arte as pessoas consigam acreditar em si mesmas.
R7: Você é uma pessoa animada, sempre levou a vida com essa leveza? Como mantém esse olhar?
Ingrid: Não. Assim como a Naamá, também estive em momentos de ‘fundo de poço’, tive perdas na minha vida que me fizeram refletir. E hoje vejo o quanto foi importante chegar nesses lugares porque me sinto uma pessoa muito mais feliz, e ser feliz e alegre hoje é uma escolha. Isso não significa que a minha vida está 100% resolvida, que não tenho os meus traumas, mas todo mundo tem. E aí escolho acordar todos os dias e fazer o meu dia valer a pena. Então se não for para ter essa energia de alegria, de divertimento, eu nem saio de casa.
R7: Acredito que tenha algumas coisas que tiram você do sério. Há também uma Ingrid mais ‘explosiva’?
Ingrid: Com certeza, mas acho que a maturidade traz isso também, diminui o tempo de reação. É tentar ser cada vez menos escrava do nosso sentimento. E, sei que se, por exemplo, eu explodir, depois vou ficar me sentindo mal pela situação e pela forma com que reagi àquela situação. Geralmente, quando algo me deixa um pouco mais irritada eu paro, me acalmo e vou fazer outra coisa. Não que isso não aconteça às vezes, é óbvio, que a gente não tem controle total 100% das nossas emoções, mas acho que a gente aprende a ter um pouco mais de estratégia, sabe?
R7: Nas suas redes sociais, você fala bastante sobre o veganismo. Como ele entrou na sua vida?
Ingrid: Eu já tinha deixado de comer carne vermelha há muito tempo, por uma questão de energia. Porque, por exemplo, a gente come carne vermelha, depois fica meio lento para continuar e eu sempre fui muito ‘atacada’, de estar sempre me mexendo. E aí tirei a carne vermelha, depois o frango, o peixe e fiz a transição de vez, sou ovolactovegetariana. Ainda consumo ovo e derivado de leite. Mas é engraçado porque a pessoa começa pela afeição aos animais. E para mim iniciou por um motivo e depois acabou se tornando uma causa muito maior. Fui estudando mais e entendendo o quanto essa indústria alimentícia impacta, nas questões ambientais. E hoje virou uma coisa muito maior para mim.
R7: Quais os maiores benefícios em ser ovolactovegetariana e as principais dificuldades?
Ingrid: Vou começar pelas dificuldades, que ainda é vencer o preconceito que existe em relação a esse estilo de alimentação. O preconceito em relação ao diferente. Se as pessoas se informarem um pouquinho mais em relação a isso, vão ver que não é tão restritivo assim. Existem substituições mais saudáveis, para a gente se alimentar de uma forma mais saudável. A maior dificuldade ainda é vencer a falta de conhecimento e de propagação do assunto, de um esclarecimento maior. Cada vez mais eu me preocupo também em botar isso nas minhas redes sociais para as pessoas verem como um assunto mais acessível, que está ao nosso redor. As pessoas acham que alimentação vegetariana é mais cara que uma alimentação normal, mas não é. A gente pode comer assim de forma supersaudável.
“A maior dificuldade ainda é vencer a falta de conhecimento”
Ela melhora a disposição para a vida, pele, cabelo, e acho que traz também um lugar de mais consciência no mundo. De entender o quanto os animais são impactados. E falando em uma escala [maior] até de sentir que a gente não é o centro do mundo.
R7: Outro tópico que te move bastante é a dança. Qual é sua relação com ela?
Ingrid: Sempre gostei muito de dançar, de me expressar a partir dela, a música tem a capacidade de mudar a nossa energia. Não sou formada em dança, mas sempre me interessei por todos os tipos. A minha relação com a dança passa por um lugar que é muito terapêutico, de vivenciar o momento presente, de relaxar.
R7: Você é atriz há mais de vinte anos, como enxerga seu papel de influência nos dias de hoje?
“É um presente poder trabalhar com arte”
Ingrid: Pelo fato de a gente ter essa visibilidade maior, acho que tem uma possibilidade de trazer mensagens que agreguem. Então busco muito partir da minha forma de viver, que é esse lugar do amor e da alegria. Espero que isso possa trazer um pouco também de felicidade para as pessoas e sempre essa mensagem de aceitar o diferente, de a partir de um trabalho, poder mudar e fazer reflexões sobre a nossa própria vida e melhorar. O objetivo de todo ser humano é evoluir, e através de um personagem propor reflexões que façam a pessoa, no seu dia a dia, ter pequenas melhoras. E no meu, porque aprendo a partir de cada personagem que faço. É um presente poder trabalhar com arte.
R7: E você lida bem com a exposição?
Ingrid: Sim, eu sou uma pessoa muito simples assim no dia a dia. Depois que comecei a fazer a série é que veio a visibilidade, mas acho que não mudou muito a minha forma de viver.
R7: Porque existe essa visão de um glamour...
Ingrid: Nenhum. Não tenho. Outro dia fui uma hora da manhã, assim que cheguei do trabalho, fui à rua com roupa de dormir e chinelo. Não tenho muita preocupação. A minha vaidade não está nesse lugar. Então, lido bem com a exposição. Não me incomoda. E me vejo como uma pessoa comum.
R7: Com o fim das gravações de Reis, quais são os planos?
Ingrid: Já comprei minha passagem para ir para o mato. Vou viver essa fase de transição, mas fico inquieta querendo viver meus projetos pessoais, quero fazer um curta-metragem, dirigir, me aventurar na direção, voltar a fazer teatro e estudar outras coisas, ampliar um pouco meu universo. Pela primeira vez estou terminando um trabalho sem a preocupação do próximo. Estou fazendo uma retrospectiva e Deus foi tão bom comigo que encerro esse trabalho com a sensação de confiar mais ainda nos movimentos. Quando a gente está de coração, as coisas acontecem. Estou em paz, muito feliz.