‘Preciso ser tratado com justiça’, desabafa Nego Di após deixar a prisão
Em entrevista exclusiva a Roberto Cabrini, humorista fala sobre acusações e a tentativa de recomeçar
Domingo Espetacular|Do R7

O comediante Dilson Alves dos Santos Neto, conhecido como ‘Nego Di’, falou pela primeira vez, desde sua saída da prisão por estelionato em 2024. A entrevista foi conduzida por Roberto Cabrini e exibida neste fim de semana (15) no Domingo Espetacular. Humorista, influenciador e empresário, Nego Di chegou a ter 13 milhões de seguidores e foi condenado a 11 anos e 8 meses por estelionato.
Para realizar a entrevista, Roberto Cabrini se dirigiu até Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis (SC), onde o comediante o recebeu na porta de casa.
Topo do mundo e fundo do poço
Logo em sua primeira pergunta, Cabrini tocou em um ponto sensível: como foi para Dilson viver o auge de sua carreira e, em seguida, ser jogado atrás das grades, chegando ao fundo do poço.
“Eu comecei minha vida no fundo do poço, consegui ascender na vida, e quando cheguei em meu melhor momento, minha vida desabou. Eu estava sendo transportado em uma viatura algemado, só olhando a rua por uma janela no fundo do camburão. Eu fui ao pior lugar que um ser humano pode ir. Acho que pior que isso só o cemitério”.
No dia 27 de novembro de 2024, o humorista deixou a prisão com 33 quilos a menos do que quando entrou. Segundo ele, sofreu de depressão, chegou a ficar 72 horas sem comer e tomava comprimidos para conseguir dormir. Após a soltura, afirmou que se matriculou em uma academia e encontrou nos exercícios físicos um refúgio para cuidar da saúde mental.
Por determinação da justiça, Nego Di cumpre medidas cautelares: teve o passaporte apreendido, precisa de autorização para qualquer mudança de endereço e não pode viajar sem comunicação prévia.
“Hoje eu vivo praticamente de nada. Faço zero reais por mês. Tive minhas contas bloqueadas, o restaurante que eu tinha fechou, sou proibido de frequentar as redes sociais e quem me sustenta é minha esposa que trabalha como influenciadora”.
Honestidade questionada
Condenado por estelionato, o comediante realizava publicidades em suas redes sociais para uma loja que afirmava ser sua, o que gerava confiança entre os seguidores. No entanto, os produtos vendidos nunca foram entregues, lesando mais de 300 pessoas em todo o Rio Grande do Sul. Desde então, sua honestidade passou a ser questionada pelos antigos fãs.
“Isso é um fantasma que me acompanha desde que a loja não entregou os produtos. Desde então, quando uma pessoa olha eu não sei se é um fã, não sei se é alguém que comprou. Quando alguém quer me ofender, me chamam de estelionatário e agora de ex-presidiário”.
Cabrini o confrontou sobre a possibilidade de ele ter se aproveitado da popularidade para aplicar o golpe.
“Eu fiz stand-up e esgotei ingressos em teatros do sul do país. Então não faria sentido eu acordar um dia, com 7 anos de carreira e dizer: ‘Vou dar um golpe nos meus seguidores’, isso não existe”.
Entre as vítimas, muitas eram pessoas de baixa renda, algumas em tratamento de saúde, que compraram produtos para revenda. Os itens eram vendidos pela internet a preços muito abaixo do mercado: ar-condicionados, celulares, televisores e mais.
Sócio condenado
Anderson Bonetti, apontado como sócio do influenciador, recebeu a mesma pena e continua preso. Nego Di, em contradição com o que dizia nas redes, negou ser o dono da loja e afirmou ter sido enganado.
“Eu confiei em uma pessoa que eu não conhecia direito. Ele é um estelionatário profissional. Queria que as pessoas comprassem porque eu também acreditava nele. Ele me fez uma proposta para ser sócio, mas nunca me enviou os documentos. Eu também estava sendo enganado”.
Em audiência, Bonetti confirmou movimentação de R$ 5 milhões nas contas da loja e afirmou que Nego Di recebeu R$ 350 mil pela promoção feita nas redes sociais. O humorista contou que, ao descobrir o golpe, expôs publicamente o nome, endereço e esposa de Anderson.
“Três anos depois, vejo o cara e sou obrigado a dividir pátio com ele na prisão. Uma vez ele veio falar comigo para praticamente pedir desculpa e dizer que foi ‘sem querer’”.
Enchentes no Rio Grande do Sul
Além da condenação por estelionato, Nego Di também é investigado por lavagem de dinheiro e por ter divulgado uma doação falsa durante as enchentes no Rio Grande do Sul. Ele anunciou que doaria um R$ 1 milhão, mas a investigação mostrou que doou apenas R$ 100. O Tribunal de Justiça determinou a remoção dos vídeos com informações falsas.
Sobre o caso, ele deu sua versão:
“Houve uma ideia de criar um comprovante simbólico com o valor um milhão para postar. A doação foi de, aproximadamente, metade do valor, e eu acordei de pagar o restante parcelado, mas fui preso. Através dessa ação, em uma semana, a vaquinha sai de R$ 50 milhões para R$ 80 milhões. Foi uma mentira, mas uma mentira que fez uma diferença no estado. E detalhe: não fiz sozinho, conversei com os organizadores da vaquinha e eles aceitaram”.
Tentativa de recomeço
Apesar de ter sido condenado por estelionato, investigado por lavagem de dinheiro e também por promover uma falsa doação milionária durante as enchentes no Rio Grande do Sul, Nego Di tenta agora reconstruir sua imagem pública.
Durante a entrevista, demonstrou arrependimento por ter se envolvido com Anderson Bonetti, apontado como o verdadeiro responsável pela fraude, e reconheceu o impacto negativo que isso teve sobre centenas de seguidores que confiaram nele.
“Preciso e vou vencer este processo. Tenho consciência que através de mim um estelionatário acabou enganando e lesando pessoas. Me arrependo de ter confiado nele. 11 anos e 8 meses... saio depois dos meus quarenta. Perco uma parte da minha vida por um crime que eu não cometi. Preciso ser tratado com justiça”.
Confira a reportagem na íntegra:
O Domingo Espetacular, apresentado por Roberto Cabrini e Carolina Ferraz, vai ao ar às 19h30.
