Guilherme Dellorto reflete sobre trajetória e protagonismo na série Reis: ‘Momento mais importante da minha carreira’
Intérprete de Salomão revisita doze anos na atuação e destaca transformação com a paternidade e a prática de esportes
Tudo de Record|Gabriel Alberto, do R7
“Hoje estou protagonista, não sou protagonista”, é com sua simplicidade característica que Guilherme Dellorto, o Salomão de Reis — A Decadência, conversou com o R7 Entrevista sobre a importância do papel do ator e a função mais importante da sua vida: ser pai.
Em meio à correria das gravações finais como o rei mais sábio que o mundo já conheceu, Dellorto não hesitou em ceder um pedaço do seu tempo e refletir, de forma genuína, sobre a posição de influência que exerce na carreira, além da complexidade de Salomão, que, com a sua decadência mostrou como a vaidade pode afastar as pessoas de si e de Deus.
Com o sorriso que os fãs tão bem conhecem e claramente emocionado, o ator compartilhou a história de um homem que o abordou para dizer como a trajetória de Salomão fez o rapaz transformar a vida e buscar o melhor para si: “Se confortamos ou servimos para salvar uma pessoa que estava se sentindo perdida no mundo e sofrendo, já vale”.
R7 Entrevista: O que o Salomão significa na sua trajetória artística?
Guilherme Dellorto: Estou no momento mais importante da minha carreira. É o maior desafio que já me foi dado, uma responsabilidade enorme. E olhar para isso agora, no final da temporada, me faz sentir muito orgulhoso, foi um desafio gigantesco e estou feliz com o que consegui fazer, tanto com o meu trabalho, contente com o resultado, mas também pela forma como eu conduzi o processo.
“É muito gratificante terminar um trabalho e sentir orgulho de tudo isso, de todas as relações que construiu”
R7: O que leva de Reis para a sua vida?
Guilherme: [Ao gravar uma das cenas finais] me emocionei sozinho e não era uma cena de emoção. Só tinha o cenário na minha frente, não tinham pessoas. Quando a gente grava, normalmente tem equipamento, movimentação e não tinha nada. Era um pôr do sol, e só o Complexo do Salomão e eu andando. Comecei a chorar, a gente recebe muito carinho, de todo mundo. E é isso que levo, o carinho que recebi de muita gente aqui durante esse tempo todo. Fui muito reconhecido, valorizado e acolhido. E eu espero que todo mundo que está trabalhando aqui se sinta assim porque é muito bom você acordar todo dia e vir feliz trabalhar, com a certeza de que o ambiente é gostoso. É muito gratificante terminar um trabalho e sentir orgulho de tudo isso, de todas as relações que construiu.
R7: O que você diria ao público que abraçou Salomão e sua complexidade?
Guilherme: Obrigado, porque eu amo o Salomão. Acho ele verdadeiro, entendo muito as escolhas dele. Ele foi criado à base de uma rejeição, quer se preencher de aceitação. Ele é humano, é falho, então eu acolho o Salomão. A gente está junto.
R7: Qual o principal aprendizado ao chegar ao final de um projeto deste tamanho?
Guilherme: Primeiramente, que é possível fazer um trabalho desse tamanho tendo três filhos [Guilherme é pai de João, de 6 anos, e das gêmeas Lia e Pilar, de 2]. O maior aprendizado é que não importa o tamanho da tua riqueza, do teu patrimônio, o que importa é o que a gente estabelece entre as pessoas. Eu hoje estou protagonista, não sou protagonista. É importante que você tenha o pé no chão e a cabeça tranquila. Se você se basear em coisas que não são verdadeiras, no dia que você não tiver, vai pirar. O que importa é isso, tratar o outro com respeito e se sentir respeitado.
R7: Sobre essa questão do protagonismo, queria que você falasse um pouquinho de como você enxerga esse lugar. Como você lida com ele?
Guilherme: Então, recebi um feedback e fiquei muito lisonjeado, porque agradeceram exatamente pela forma como eu conduzi, porque nós somos o termômetro. Se eu me destemperar, isso dá motivo para as pessoas se destemperarem, se começo a reclamar, isso dá motivo para que todo mundo reclame. E sempre mantive um lugar sereno. Sou uma pessoa leve, que sempre traz uma leveza, um clima descontraído e de uma forma geral, a gente levou principalmente essa 9ª e 10ª temporada dessa forma. Óbvio, existe uma urgência, mas não se pode deixar abalar por isso, vão existir momentos de cansaço, mas entender que o outro também está fazendo o melhor naquele momento, é tratar com respeito aquele profissional. Trato o meu trabalho com o maior amor, tenho muito prazer em estar aqui, fiquei muito lisonjeado com esse elogio porque sei que isso agora é um parâmetro, então se sou uma régua, acho que fui uma boa régua. Fico feliz.
“O maior aprendizado é que não importa o tamanho da tua riqueza, do teu patrimônio, o que importa é o que a gente estabelece entre as pessoas. Eu hoje estou protagonista, não sou protagonista”
R7: Como você comentou também, o trabalho demanda muito de você nesse papel do protagonista. Normalmente, o público acompanha você em frente às câmeras, mas não sabe que tem todo um trabalho por trás...
Guilherme: A preparação é diária. Tenho que entender a cena, estudar, pensar, fazer aula de montaria, [ensaiar] uma coreografia de luta. É muita demanda e todos os dias há texto [para ler], então preciso ir para a casa e estudar.
Tenho que dar atenção em casa, cuidar dos meus filhos, da minha mulher, coisas que todo mundo faz. Você tem que limpar, pendurar a roupa, tudo. O tempo fica realmente muito corrido, mas é isso, essa é a minha vida, todo mundo faz isso.
R7: Na sua trajetória, tem algum personagem em especial que você sonhe interpretar e ainda não teve oportunidade?
Guilherme: Acho que fazer uma pessoa com desvio de caráter, eu nunca fiz isso, então é uma vontade e pode ser interessante [interpretar]. O Salomão em alguns momentos era cruel, tinha uns impulsos bélicos, mas não era perverso, então talvez fazer um personagem desse formato, eu acho que ia ser interessante.
R7: Como a atuação entrou na sua vida?
Guilherme: Sempre fui uma criança muito extrovertida e agitada, mas não tinha o hábito de ir ao teatro. Em uma conversa com um amigo, nos meus 17, 18 anos, meio perdido depois que tentei fazer prova para ser bombeiro militar, não sabia o que fazer. E ao ser questionado por ele sobre o que faria caso ganhasse um prêmio da loteria, foi quando pensei no teatro. Aquilo ali bateu em mim. Falei: ‘vou ver qual é a do teatro’. Nunca tinha feito teatro na vida. E a primeira aula na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), lembro que era corporal. A gente se deitava, tinha uma luz que entrava e eu olhava as portas da sala aberta, tudo diferente de uma sala de aula convencional. Era tudo espalhado, você via a árvore, eu naquele momento pensei: ‘me achei’. Na primeira aula, já percebi que era aquilo que queria fazer da minha vida. E deu certo, ainda bem.
R7: O que mudou do Guilherme que há 12 anos ganhava um concurso de atuação para entrar no audiovisual para o Guilherme de agora?
Guilherme: O Guilherme de 12 anos atrás era mais romântico no sentido de achar que a vida ia ser linda, porque quando eu saí da CAL, é aquela coisa, você já pensa aonde vai entregar seu currículo de ator. ‘Quem vai me ver? Como é que eu faço para ser visto? Vou ter que fazer uma peça? Mas eu sou ator, nunca pensei em ter que dirigir ou produzir. Como faço para botar uma peça no edital?’ Você se vê perdido, e uma amiga sugeriu tentar o concurso e aconteceu. Depois de um ano acabou e não tinha o próximo [trabalho]. Acho que hoje entendo que o ofício é estudar e não tem esse glamour. O Guilherme do passado era muito mais deslumbrado.
R7: E o que você diria para aquele Guilherme?
Guilherme: ‘Faz parte do caminho, amigo. Está lindo, está tudo certo, continua nesse estudo, porque estou muito feliz onde estou agora. A gente faz o nosso, com dignidade e honestidade. Estou aqui me preparando, dando o meu máximo para fazer isso aqui com verdade, com o que eu posso fazer, com as ferramentas que eu tenho hoje. Acabou um projeto, tem que vir outro, mas também não dá para ficar sofrendo, é acreditar que daqui a pouco vamos trabalhar’. É sempre correr atrás, estar preparado, estudar, se dedicar, aprender coisas, sempre em movimento, mas também não dá para sofrer a cada momento que tem um término, porque a gente tem que abrir a mão para esperar que caia algo nela de novo.
R7: Nas redes sociais, você compartilha sua rotina no crossfit e já praticou judô e jiu-jítsu. Como o esporte funciona na sua vida e como te auxilia na carreira?
Guilherme: Eu não gosto muito de malhar, de ir para a academia, gosto de uma coisa mais lúdica. E sempre fiz esporte quando era pequeno, então isso já cresceu comigo. Só que, às vezes, eu canso, então eu migro, mas também não aprofundo tanto. O crossfit já me acompanhou um tempo, porque tem uma coisa mais estética, consigo manter um padrão que fico satisfeito. Só que ele é mais lúdico. Não é ficar fazendo o mesmo movimento. Gosto de fazer coisas diferentes também, mudar. Durante um tempo fiz aulas de vôlei de praia e futebol. Agora, quero fazer tênis. Não sei se eu vou conseguir, mas é uma vontade. Para atuar, é bom saber um monte de coisa. Por exemplo, eu fazia judô, nas cenas de luta não precisei botar um tatame, fazia um rolamento porque já tinha feito. É isso, eu gosto de estar em movimento.
“Acho que a minha melhor versão é ser pai”
R7: E você se tornou pai há seis anos, certo? O que a paternidade te trouxe? Mudou sua forma de enxergar o mundo?
Guilherme: Completamente. Você muda a perspectiva. Eu acho que você cura algumas coisas que você nem sabia que tinham, que vêm de antes, são coisas que você traz na sua carga genética, na criação do seu avô para o seu pai, e aquilo ali chega a você. Não sei nem dizer o sentimento, o que é ser pai. Mas eu acho que é a capacidade de você construir... Acho que é a sua chance de mudar alguma coisa no mundo, no futuro. É só você construir um ser ali, sabe? Você dando o seu melhor, com amor, criando uma relação do zero, apresentando o mundo para ele. Isso é incrível. Você ver a criança olhando uma coisa pela primeira vez, observar essa criança crescendo. Meus filhos me fazem uma pessoa melhor e me ajudam a me compreender melhor, fazem com que eu queira um mundo melhor para eles. Me dá uma motivação de viver, de mudar o que está ruim. Ser pai é muito bom e foi a melhor coisa que podia ter me acontecido. Acho que a minha melhor versão é ser pai.
R7: Como você vê o uso das redes sociais e essa posição de influência que exerce nas outras pessoas?
Guilherme: Não sou muito dado às redes sociais, sou um pouco atrasado, eu posto as coisas sempre um dia, dois dias depois [de quando aconteceu]. Isso me toma muito tempo, acabo me ausentando de fazer coisas, me tira o foco do que eu tenho que fazer. As redes sociais estão aí, não tem como negar, mas eu sempre tenho receio porque começam a falar de um jeito para a rede social, a dançar de um jeito, hoje a gente filma cada vez mais estreito porque é para a rede social, para caber no celular. É uma ferramenta deliciosa, é importante, faz um link direto com as pessoas, mas a gente tem que tomar cuidado, nós somos as primeiras gerações que estamos entendendo o que é rede social, a gente não sabe como será daqui a alguns anos. Então sempre tenho um pouco de receio. Sobre o glamour, a rede social virou hoje um grande espelho de publicidade, publicidade, e com esse glamour criamos um grande problema, é que nem editar foto para aparecer com um rosto que eu não tenho. As pessoas precisam entender que sou um protagonista, que está na RECORD, mas sou a pessoa que faz a feira e leva uma vida normal. Não tem glamour no meu dia a dia, é o cotidiano caótico de um pai com uma mulher e três filhos.
R7: Qual a principal mensagem que gostaria de transmitir para o público com o teu trabalho?
Guilherme: O trabalho do ator tem uma função de utilidade pública. A gente tem, às vezes, que trazer uma reflexão, um questionamento, tem que provocar. Essa é a minha vontade com o meu trabalho. O melhor elogio que recebi até hoje foi de um cara na pracinha que eu levei minhas filhas. Ele, de repente, olhou para mim, eu estava conversando com uma pessoa, e ao reconhecer minha voz se emocionou e falou que eu havia mudado a vida dele, que ele estava bebendo muito, estava perdido e, começou a ver o Salomão [e foi mudando]. Ele foi tão sincero, se emocionando. Eu também me emocionei. É a capacidade que, de fato, uma história, às vezes, tem de mudar a vida. Foi a melhor coisa que já ouvi de alguém. É isso. O trabalho do ator serve para isso, provocar emoção e, ao mesmo tempo, também pode ser só um conforto de você assistir algo e se emocionar. Acho que se a gente conforta ou está servindo para salvar um cara que estava se sentindo perdido no mundo e sofrendo, já vale.
“O trabalho do ator tem uma função de utilidade pública. A gente tem, às vezes, que trazer uma reflexão, um questionamento, tem que provocar”
R7: Com o fim das gravações de Reis, quais são os planos?
Guilherme: Ficar em casa e cuidar dos meus filhos integralmente. Quero voltar a praticar minha paternidade de forma integral por um bom tempo, se for possível. Mas eu sei que já quero romper e me ocupar com outra coisa porque sei que vai ser um vazio, mas ainda bem que tenho três filhos que vão preencher esse vazio completamente. Minha esposa, em casa cortou um dobrado para eu poder estar aqui. Nossas dinâmicas e logísticas sempre foram complexas, então também quero estar em casa para ela poder trabalhar com mais paz. Meus projetos são esses, cuidar da minha casa e se possível viajar para um lugar bem silencioso e revigorar.