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Cidade Alerta

"O Cidade Alerta decifra diariamente a alma humana, geralmente no que ela tem de pior", revela Percival de Souza

Com 50 anos dedicados ao jornalismo investigativo, o comentarista de segurança da RECORD relembra os caminhos percorridos até chegar à tela da emissora 

Cidade Alerta|Giovana Sobral, do R7

Percival de Souza conta sua trajetória no jornalismo investigativo
Percival de Souza conta sua trajetória no jornalismo investigativo Edu Moraes/RECORD

Jornalistas carregam histórias. Não só as histórias que reportam ao público diariamente, mas também a própria história. Nascido em Braúna, no interior de São Paulo, o comentarista do Cidade Alerta, Percival de Souza, percorreu um longo caminho até começar a escrever “novos capítulos” da sua carreira no jornalismo da RECORD.

Ainda garoto, como contínuo na Folha de S. Paulo, ele convivia com jornalistas e buscava inspiração em grandes nomes, em especial, José Hamilton Ribeiro [premiado profissional brasileiro, reconhecido por cobrir guerras e política]. E não demorou para Percival abraçar a sua primeira oportunidade na área, como repórter da Revista Quatro Rodas.

Mas, o profissional apaixonado por futebol e automobilismo, recebeu uma proposta irrecusável do Estadão: ser um dos fundadores do Jornal da Tarde. A partir de então, ele começava a escrever seu nome na cobertura policial, inspirando novos profissionais e histórias.

Percival foi um dos fundadores do Jornal da Tarde e já conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo
Percival foi um dos fundadores do Jornal da Tarde e já conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo Arquivo pessoal

De lá para cá, Percival ganhou reconhecimento, conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo e ainda ajudou a solucionar casos com seu faro de justiça.


Na tela da emissora, o comentarista acumula fãs de todas as idades. “Eu gosto muito de saber que os mais jovens se interessam pelo meu trabalho e, por vezes, surpreendentemente, crianças”.

Percival de Souza acumula fãs de todas as idades na tela da RECORD
Percival de Souza acumula fãs de todas as idades na tela da RECORD Arquivo pessoal

Já nas faculdades, aos amantes do jornalismo policial — ou investigativo — seu nome é crucial sempre que alguém pergunta quem é sua inspiração.


Ao R7 Entrevista, o jornalista relembra detalhes da carreira e compartilha bastidores da cobertura de casos que ganharam grande repercussão no Brasil. Confira a seguir:

R7 Entrevista: O jornalismo era um sonho de infância?


Percival de Souza — Naquela época, não tinha a menor ideia de que seria jornalista, mas eu sempre gostei muito de escrever e ler, então eu escrevi um jornalzinho interno em uma folha, tinha gosto pela literatura. Depois de algum tempo, achei que seria possível me tornar jornalista.

E como você foi amadurecendo a ideia de trabalhar com comunicação?

Eu comecei a minha vida profissional com uma fase preliminar, eu fui contínuo da Folha de S. Paulo, e lá eu conheci jornalistas de muita competência, entre eles, o José Hamilton Ribeiro [premiado jornalista brasileiro reconhecido por cobrir guerras e política]. Fui apresentado na Revista Quatro Rodas e então comecei a minha vida profissional.

José Hamilton Ribeiro foi a sua grande inspiração?

Sim, primeiro como jornalista, segundo, pelos contatos que ele tinha com várias Redações, entre elas a Editora Abril, então, ele foi o meu ‘padrinho do jornalismo’.

Consegue se imaginar em outra carreira?

Eu não tenho a menor ideia do que seria se não fosse jornalista. Como sou do interior, a decisão de morar em São Paulo foi da minha mãe. Se continuasse no interior, não sei o que seria. Poderia ser tocador de boiada e ter uma vida rural.

Percival revela que não consegue se imaginar em outra carreira
Percival revela que não consegue se imaginar em outra carreira Arquivo pessoal

Nem sempre você fez cobertura policial. Como veio essa paixão?

No começo da carreira, eu fiz automobilismo, cobertura de boxe e futebol em um dos lugares onde trabalhei. Mas, quando eu comecei a fazer jornalismo policial, achei que fazer direito seria necessário para dominar a área e ter controle de uma situação, não ficar dependendo de nenhum profissional da área, delegado, advogado, promotor, juiz… A minha intenção foi essa, realmente ter condições de ser independente nesse mundo.

Eu gostava do futebol e do automobilismo. Mas aí recebi uma proposta irrecusável do Estadão, para ser um dos fundadores de um novo jornal, o Jornal da Tarde. E lá a polícia e o crime entraram na minha vida.

Antes disso, você nunca havia pensando em jornalismo policial?

Eu não imaginava trabalhar com a área criminal, mas quando comecei no Jornal da Tarde, que foi inovador em todas as áreas, e um pessoal muito jovem começou lá, era tudo novo: maneira de escrever, escolher fotos, estilo de cobertura, tudo diferente.

[Tudo começou] Quando uma mulher da alta sociedade, Ligia Jordan, foi sequestrada, e eu fui cobrir com um colega que era fotógrafo e tinha uma experiência muito grande em um jornal criminal. Saí para isso, mas estava acompanhando, pois ele conhecia tudo na polícia, e eu absolutamente nada. Como a gente cobriu muito bem, o jornal achou que eu era ‘o cara’ para cobrir essa área. Aí eu não me livrei mais [risos].

Sessão de autógrafos no lançamento do livro O Crime da Rua Cuba
Sessão de autógrafos no lançamento do livro O Crime da Rua Cuba Arquivo pessoal

Como considerar um caso como “emblemático”?

Você nunca sabe quando vai ser um caso emblemático. Às vezes, alguns são importantes para você, mas não têm repercussão. O primeiro transplante de coração na América Latina é muito significativo para mim. Havia toda aquela expectativa, estava tudo pronto, só não se sabia quem seria o doador. Aí, aconteceu um atropelamento no começo da noite de um domingo. Eu fui para o local com a certeza de que alguma coisa aquilo me proporcionaria, uma técnica que aprendi acompanhando as investigações do Departamento de Homicídios.

Quando olhei, tinha um par de sapatos e um maço de cigarros de palha pela metade. Eu deduzi: a vítima estava a pé, morava perto e fumava esse tipo de cigarro. Procurei em bares e mercearias se tinha alguém que comprava regularmente aquele tipo de cigarro e consegui chegar a um rapaz. Fui até a casa onde ele morava e fui atendido por uma senhora. Perguntei pelo nome que tinham me dado na mercearia e ela disse que ele saiu e não voltou mais. Naquele momento, eu soube que tinha esclarecido o caso, mas não quis contar para a mãe. Eu disse que, provavelmente, o homem tinha ido procurar emprego, [perguntei] se tinha alguma foto dele e ela me deu. Então, dei um grande furo de reportagem: a identificação e a foto do homem. Isso para mim teve um valor imenso, eu ganhei um Prêmio Esso de Jornalismo. Esse é um caso de muita satisfação profissional para mim.

Também fui acompanhar o assassinato de um homem que morava em um bairro elegante. O ladrão entrou na casa, o matou e trocou a roupa que ele vestia pela roupa do homem assassinado. Eu fui com o investigador ao local e, na calça que estava na cena do crime, tinha uma etiqueta do tintureiro, com o nome da tinturaria e tudo. Com esse detalhe, o crime foi esclarecido.

Nos Estados Unidos, Percival conheceu a polícia de Miami
Nos Estados Unidos, Percival conheceu a polícia de Miami Arquivo pessoal

Todo jornalismo é investigativo?

Não. O jornalismo investigativo é aquele que se debruça sobre um tema, tem como motivação revelar coisas que muita gente gostaria que não fossem reveladas, contar o que ninguém sabe e ter uma espécie de perdigueiro da notícia, ou seja, quem tem sensibilidade para farejar um ato interessante que possa ser explorado e desenvolvido. Qual é a diferença? Você tem o jornalismo factual, que é natural, faz uma narrativa conforme o que você testemunha no momento. O jornalista constrói a história e esse jornalismo faz parte da história da sociedade.

Qual foi o caso que mais te marcou?

Com 50 anos na área, é difícil selecionar um em especial. Mas, vou mencionar dois destaques: o caso de uma mulher de alta sociedade, Maria Tereza de Lara Campos, que apareceu morta em um carro na Via Anchieta. Tudo indicava que fosse suicídio, até que a necropsia no IML (Instituto Médico Legal) demonstrou que ela tinha um tiro de arma de fogo na cabeça. Foi um caso de muita repercussão pela posição social dela e pelo mistério. E o segundo, entre outros, o da Isabella Nardoni, que acompanhei cada passo. Eu conheci profundamente esse caso, acompanhei a investigação, as perícias, talvez porque, à época, eu tinha uma neta com a mesma idade da Isabella, então, emocionalmente, ligava uma coisa a outra.

Eu conheci profundamente o caso Isabella Nardoni, acompanhei a investigação, as perícias, talvez porque, à época, eu tinha uma neta com a mesma idade da Isabella, então, emocionalmente, ligava uma coisa a outra

(Percival de Souza)

Poderia compartilhar com o leitor do R7 Entrevista algumas experiências marcantes em grandes coberturas?

Um dos casos mais intrigantes que fiz a cobertura foi o crime da Rua Cuba. Um casal apareceu morto a tiros na véspera de Natal. Esse foi um mistério que se arrastou durante muito tempo, porque no interior da casa, foi constatado que não houve arrombamento, chegou-se a suspeitar do filho mais velho do casal. Houve atritos jurídicos entre a defesa, a polícia, e o Ministério Público, porque o este endossou tudo aquilo que o delegado fez, ou seja, apontou o filho mais velho como autor do crime. Depois de muitas batalhas, o filho não foi a julgamento popular. Eu via as discussões deles lá. Foi um caso emblemático, porque os legistas, em um primeiro momento, identificaram orifícios na cabeça do casal equivocadamente. Foi necessário fazer uma exumação e com um detalhe incrível: as cabeças dos dois foram seccionadas, levadas para um perito da Unicamp (Universidade de Campinas) e provou-se que o homem foi morto primeiro que a mulher. Todo esse processo, que eu, inclusive, transformei em livro, se arrastou por muito tempo.

Ao lado de Marcelo Rezende, Percival de Souza protagonizou grandes momentos no Cidade Alerta
Ao lado de Marcelo Rezende, Percival de Souza protagonizou grandes momentos no Cidade Alerta Reprodução/RECORD

Como chegou ao Cidade Alerta?

Eu fui convidado pelo Luiz Gonzaga Mineiro, que foi diretor de jornalismo, depois continuei e aí me firmei. Comecei como pauteiro do Jornal da Record. O Cidade Alerta se consolida na minha vida mais para frente.

O que sente ao descobrir tantos telespectadores mais jovens acompanhando seu trabalho?

Eu gosto muito de saber que os mais jovens se interessam pelo meu trabalho e, por vezes, surpreendentemente, crianças. O Cidade Alerta decifra diariamente a alma humana, geralmente no que ela tem de pior. Então, é muito importante que os jovens conheçam a realidade da vida que a gente conta em detalhes e, ao mesmo tempo, comenta, para dar uma sustentação ética, moral e de respeito ao ser humano.

Ao lado do companheiro de emissora, Reinaldo Gottino
Ao lado do companheiro de emissora, Reinaldo Gottino Arquivo pessoal

Você acompanhou a transição do jornalismo impresso para o digital. Como foi essa mudança?

O impresso fez parte da minha vida por muito tempo, ele foi um estímulo grande para ter um despertar para a literatura, escrever bem e, depois, no mundo digital, o padrão e estilo são diferentes. Você precisa fazer um ‘transplante’ do impresso para o digital. Mas, hoje, como o mundo digital é dominante, é algo muito interessante essa transformação. Aliás, o que é próprio da sociedade, os seres humanos vivem em transformação ao longo do século, até os meios de comunicação mudaram muito no decorrer do tempo, então, eu me adaptei e me sinto bem.

O podcast é uma experiência nova, tanto para mim, quanto para Lombardi [Renato, também comentarista de segurança da RECORD], porque ele rememora casos que a gente já fez a cobertura jornalística, tanto no impresso, quanto na televisão. As dificuldades da investigação, a importância da perícia, o mistério, o suspense… No Arquivo Vivo, a gente consegue dar toda essa dimensão, inclusive de bastidores, revelando coisas que hoje ninguém conhece, nem a gente mesmo naquela época poderia [também] não ter conhecido. 

O podcast é uma experiência nova, tanto para mim, quanto para Lombardi [Renato, também comentarista de segurança da RECORD], porque ele rememora casos que a gente já fez a cobertura jornalística, tanto no impresso, quanto na televisão

(Percival de Souza)

Esse formato podcast tem sido uma grande descoberta…

Foi uma coisa nova. Na verdade, o mais difícil hoje é selecionar os casos. São tantos, é sinistro, em matéria de homicídio, por exemplo, o Brasil é o lugar onde mais se mata no mundo. Compartilhar da dor profunda que alguém está sentindo é como se você se sentisse atingido por aquele fato. Eu conheço policiais que já elucidaram muitos casos comoventes após prometerem que resolveriam. Um deles se empenhou sozinho, demorou, mas conseguiu, esclarecer. Às vezes, o familiar de uma vítima não tem a possibilidade de colocar o caso na mídia, porque é socialmente de classe baixa, mora em um lugar periférico, então ‘ninguém liga’, é um ‘personagem invisível’. Casos como estes, resolvidos, trazem um grande consolo.

Entre os prêmios, Percival recebeu a Medalha Anchieta na Câmara Municipal de SP
Entre os prêmios, Percival recebeu a Medalha Anchieta na Câmara Municipal de SP Arquivo pessoal

Se você pudesse dar um conselho para quem sonha ser jornalista policial, qual seria?

Um jornalista precisa ter sensibilidade, perspicácia, talento, força de vontade, disposição e enfrentar sacrifícios, porque ele vai levar uma vida completamente diferente que vai acabar afetando sua vida pessoal e familiar. Além disso, precisa ler o máximo que puder e ser capaz de produzir um bom texto. Há várias inspirações em materiais de leituras adequadas e algumas que considero obrigatórias, tanto para escrever em áreas específicas quanto na criminal. É necessário aprimorar-se, ter noções fundamentais de Direito, da estrutura da polícia, conhecer o mecanismo do judiciário, o Ministério Público... A gente precisa terminar com a fama de que jornalista é aquela pessoa que escreve sobre tudo e não entende sobre nada [risos]. Isso é uma brincadeira que acompanha a nossa vida. Você precisa estar razoavelmente familiarizado para cobrir sua área. O meu conselho é esse: entenda do assunto que você vai cobrir. E principalmente: quando tiver um olhar crítico sobre uma matéria que outro veículo fez, pergunte a si: você saberia fazer melhor?

Nas horas vagas, o jornalista gosta de estar perto da natureza
Nas horas vagas, o jornalista gosta de estar perto da natureza Arquivo pessoal

O que o Percival faz nas horas em que não é jornalista?

Nas horas em que não sou jornalista eu gosto da natureza, de filmes, cinema, uma vez ou outra, televisão, gosto de futebol, de passear e conhecer lugares diferentes. Eu preciso de momentos de retiro, ficar isolado pensando em outras coisas, vendo pessoas diferentes e tratando de assuntos que não façam parte do meu dia a dia.

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