‘Pensei que nunca mais ia sair de lá’, desabafa brasileiro vítima de tráfico humano
Com falsas promessas vindas de influenciadores, muitos acabam escravizados na região conhecida como Triângulo Dourado
Domingo Espetacular|Do R7
O Domingo Espetacular mostrou casos de brasileiros que seguiram rumo ao exterior, iludidos com a promessas de fazer fortunas e uma vida com tudo pago. Só que a realidade era bem diferente. Eles passaram por escravização e torturas, e agora, estão com medo de retornarem para casa. Além disso, o trabalho ainda era realizado era ilegal e criminoso, como divulgar e coordenar operações de cassinos virtuais. Com uma das maiores crises planetárias da história, o tráfico humano vem crescendo ano após ano, principalmente no sudeste asiático.
É a história de Diego, Lucas, Vinícius, e tantos outros que preferem ter sua identidade preservada. Por meio de redes sociais, influenciadores divulgam essas ‘oportunidades’, com uma ilusão de que seus seguidores iriam ter um trabalho muito bem remunerado, com moradia e alimentação inclusos durante sua estada. Porém, a chegada ao outro lado mostra uma realidade completamente diferente da divulgada. “Eu poderia ganhar mais que o triplo do que eu ganhava no Brasil”, disse uma jovem que não quis se identificar.
Leia também
Com dezenas de casos, os roteiros eram os mesmos. Por meio de uma oportunidade de trabalho perfeita, as pessoas percebem que são vítimas ao chegar no suposto local de trabalho. Indo para o sudeste asiático, precisamente em Laos, um dos países mais pobres do mundo, esses trabalhadores são encaminhados para a fronteira, com Myanmar e a Tailândia, o chamado Triângulo Dourado, centro econômico destinado para investimento estrangeiro, e sedes da maioria dos jogos de azar.
Apesar da bela paisagem com prédios luxuosos, a rotina de tortura é iniciada ali. Com dez pessoas dormindo em um quarto que cabe apenas uma, até um único banheiro era compartilhado. A rotina de trabalho por muitas horas ao dia não era atrapalhada nem por doenças. “A empresa obriga os funcionários a trabalharem doentes. Um menino gastou mais de R$ 10 mil para realizar um ultrassom, e gastava mais de R$ 300 por dia com soro”, indagou a mesma jovem.
Junto com as péssimas condições de moradia, a chegada ao local era acompanhada com a cassação do passaporte, como procedimento padrão. Sem dinheiro e nenhuma opção, os trabalhadores tinham que se escravizar para conseguir algum retorno.
Além das péssimas condições, relatos de tortura eram frequentes. Lucas, um dos brasileiros que esteve em Laos, conta que qualquer acusação de algo, mesmo sem base alguma, era punido à força. “Um brasileiro foi acusado de ter roubado a empresa. E mesmo sem comprovação, ele foi torturado”, disse o jovem.
Diego, mais uma vítima que viveu esse terror, contou a mesma história. “Eles ficaram ali semanas, sendo agredidos, sem água e comida, eram atacados por máquinas de eletrochoque, até assumirem algo que não fizeram”, concluiu o homem.
E com todos esses problemas, o trabalho era algo ilegal. Atuando em cassinos virtuais, como o ‘Jogo do Tigrinho’, a missão desses brasileiros, era ligar para outros conterrâneos para os induzir a depositarem em tais jogos. “Tínhamos que ligar para brasileiros onde nós tentávamos fazer eles depositarem o máximo possível”, disse Lucas.
Sem nenhuma promessa anterior cumprida, com péssimas condições de trabalho e sem condições humanitárias simples, a fuga era sim uma opção. Vinícius, mais um jovem no esquema, conta que sem passaporte, a sua missão foi em dobro. “Eu simplesmente resolvi fugir”, ele indagou, em poucas palavras, o processo de conseguir escapar por meio de uma vaquinha online.
A diplomacia brasileira, às vezes, não consegue o contato com tais países, mas afirma que tenta dialogar por meio da embaixada do Brasil na Tailândia. O Ministério das Relações Exteriores ainda apurou que o tráfico humano vem subindo em níveis alarmantes desde 2022, em estudos realizados com a Polícia Federal e a Interpol.
Mesmo com a ajuda da embaixada, diversos brasileiros fogem por conta. Como foi o caso de Diego, que durante seis meses planejou sua fuga, que consistiu nele atravessar o oceano por um barco ilegal, durante três dias e três noites, botando sua vida em risco. “Eu pensei que nunca mais ia sair de lá. Achei que ia terminar minha vida lá, não via solução”, refletiu o homem.
A Polícia investiga os influenciadores que divulgam essas ‘oportunidades’, e nota um aumento exponencial desde novembro. Ainda mais, que, ao saírem da escravidão, a maioria dos brasileiros são obrigados a fugir, por medo. Diego, que apenas passou na sua terra natal, afirmou: “Todo tempo eu tenho recebido mensagens, falando que aqui no aeroporto [eles] irão me esfaquear. Que eu sou um porco selvagem, um traidor. Então, não sei mais o que eu faço. Eu só quero procurar paz para a minha vida”, concluiu emocionado.
Confira a matéria completa na íntegra:
O Domingo Espetacular vai ao ar todos os finais de semana, às 19h45, na tela da RECORD.