‘Na hora que sair do hospital, já bota no avião e vai embora’, aconselha advogado para chefe de quadrilha de tráfico de bebês
Em solo brasileiro, um português atuava ilegalmente levando crianças de mães pobres para o país europeu em troca de dinheiro; entenda
Domingo Espetacular|Do R7
O jornalismo da RECORD acompanha as investigações de um esquema internacional de tráfico de bebês que atua em solo brasileiro. No Domingo Espetacular, mensagens e documentos trocados entre os integrantes do esquema revelaram detalhes das ações que eram comandadas por um português preso, recentemente, pela Polícia Federal.
Segundo as autoridades nacionais, o estrangeiro Márcio Rocha, de 49 anos, comprou um recém-nascido que ainda estava na maternidade, localizada no interior de São Paulo. Além disso, as provas descobertas pela polícia mostram que ele negociava a compra e outros quatro bebês.
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O circuito de segurança do Aeroporto de Guarulhos mostrou os investigados agindo. No colo de uma mulher que não é a mãe, uma menina de apenas 16 dias chegou no embarque e, com um homem que não é o pai, foi levada, ilegalmente, para outro país.
Foi descoberto, também, que mais quatro recém-nascidos estariam na mira da quadrilha. Os principais alvos eram mulheres jovens e carentes, de municípios e estados diferentes pelo Brasil, como Valinhos (SP), Pará (PA), Brasília (DF), Curitiba (PR).
Uma conversa apreendida com o celular de Márcio, o português fala sobre um menino que iria nascer com um homem que teria interesse em receber o bebê em Portugal. Do outro lado, o cliente se mostra surpreso com a agilidade da garantia da criança. Sobre isso, Márcio falou que, por estar no Brasil, a burocracia é facilmente manipulável.
Mesmo com todos os processos do tráfico em andamento, o garoto não foi levado graças a ação da polícia, que conseguiu efetuar a prisão do líder da quadrilha antes. A mãe da criança é do Pará (PA), e recebeu R$ 5000 em troca do seu filho.
Sobre as novas descobertas, a delegada Estela Beraquet explicou: “A investigação tem dois momentos distintos. Uma em relação ao português, que ainda se encontra preso, e um novo procedimento foi instaurado, em relação as outras pessoas que estão participando, possivelmente, deste crime”.
Para o andamento do caso, a Polícia Federal Brasileira ainda aguarda informações da polícia de Portugal. O delegado Cristiano Eloi comentou sobre a falta de colaboração do país Luso-Americano: “Têm países que as polícias, infelizmente, não costumam fazer a cooperação internacional, então a gente tem uma dificuldade muito maior”.
A prisão do chefe da quadrilha interrompeu as duas primeiras negociações. Porém, em uma troca de mensagens com o marido e comparsa, Helder Dias, Márcio orientou que o homem levasse uma mulher brasileira, que viajou para dar à luz, para uma maternidade na cidade do Porto, onde o casal mora.
Na residência deles, inclusive, foi encontrada a criança que havia sido levada do Brasil pelo homem com poucos dias de vida. A menina, ao ser resgatada, foi levada para um abrigo local de menores. A Polícia Federal investiga, ainda, se mais recém-nascidos foram negociados pela quadrilha ou se as ações criminosas foram derrubadas logo no início.
Já no Brasil, Márcia Honorio é apontada como braço direito do chefe do esquema. Ela era a ponte entre Márcio e as grávidas e chegou a receber quase R$ 18 mil do português. Além disso, durante as investigações, as autoridades descobriram outro aliado ao estrangeiro que atuava em solo nacional.
O advogado Erlan Milnres atua em Campinas (SP), era como um consultor para Marcio e Elder. O profissional ensinava aos portugueses estratégias para retirar recém-nascidos do Brasil de uma forma que parecesse dentro da Lei.
Dois dias antes de o estrangeiro ser preso no interior paulista, o advogado fez um alerta sobre os riscos que o homem estaria correndo. “O que eu sempre aconselho, é não deixar amamentar a criança porque você cria um laço afetivo. Na hora que sair do hospital, já bota no avião e vai embora”, comentou Erlan.
Assim que as crianças nasciam, Márcio se registrava como pai e entrava com um processo na justiça de guarda unilateral. As mães, então, assinavam um termo abrindo mão das crianças. Para saber mais sobre o esquema, a equipe do programa tentou contato com os brasileiros envolvidos.
Por telefone, o advogado acusado afirmou que não poderia comentar sobre o caso por orientações da sua defesa. “Não vou poder ajudar”, afirmou Erlan. Além dele, Márcia foi procurada e também negou explicações: “Não quero falar”. Por mensagens, o advogado que defende os dois afirmou que não iriam se manifestar.
Na visão da Polícia Federal, contudo, ainda não está claro se as crianças brasileiras eram levadas para o exterior para fins adotivos ou não. “A gente, efetivamente, não tem como garantir o que vai acontecer”, refletiu o delegado Cristiano.
Confira na íntegra:
O Domingo Espetacular vai ao ar todos os finais de semana, às 19h45, na tela da RECORD.