Irmãos, Fernando e Miguel Roncato vivem pai e filho em Reis — A Emboscada e comentam amadurecimento na dramaturgia
Na nova temporada da superprodução, os atores interpretam Baasa e Elá, do reino do norte. E em ensaio exclusivo para o site oficial, os dois revisitam a trajetória e o apoio da família na carreira artística
Entrevistas|Gabriel Alberto, do site oficial
Família, união e cumplicidade são palavras que norteiam a relação de Fernando e Miguel Roncato. Irmãos, os dois interpretam pai e filho, Baasa e Elá, na nova temporada de Reis, A Emboscada, já disponível no Univer Vídeo.
Na trama, a relação entre os dois vai ser difícil, mas na vida real é evidente a parceria e o cuidado que marcam a relação. Em uma das primeiras cenas de Miguel como Elá, Fernando, que está na série desde a décima temporada, esteve no estúdio para dar apoio ao irmão no início de mais um projeto. Reis é a segunda produção na qual os dois trabalham juntos na RECORD.
Em papo descontraído e inspirador com o site oficial, os guris de Nova Prata, na Serra Gaúcha, contam como foi crescer em uma casa com acesso à arte e como os dois se diferenciaram e, ao mesmo tempo, se complementaram neste quesito. Enquanto Miguel desde criança sonhava em estar na telinha, Fernando desejava ser jogador de futebol para depois voltar a trilhar o caminho da TV e do teatro.
Durante a jornada, eles fortaleceram os laços fraternais desde a saída da casa dos pais, há quase 20 anos, para morarem juntos em São Paulo. Tudo isto em meio à trajetórias e percepções únicas de mundo na vida pessoal e no audiovisual.
Confira a seguir a entrevista completa:
Vocês já trabalharam em um mesmo projeto em outras oportunidades, mas em Reis — A Emboscada, o público vai conferir a dupla em cena como pai e filho. Como é voltar a contracenar juntos?
Miguel: Aqui na RECORD é a segunda vez. Demos um passeio na contemporaneidade em Topíssima (2019), onde éramos irmãos. Era um flashback e foi interessante, porque nunca tínhamos contracenado juntos aqui. E quando teve essa chance de voltar, quando soube que o personagem seria filho dele, ficamos muitos animados, mas tem uma passagem de tempo e o Fernando entrega para o Paulo César Grande. Tivemos um momento ali, mas quem sabe o que vem por aí? Estamos felizes porque estar em família é sempre uma alegria, uma oportunidade de se auxiliar e crescer. Quando estamos juntos no mesmo projeto, há uma afinidade de debater a mesma narrativa. É mais fácil.
Fernando: O conceito de família é muito forte na gente. Viemos de uma educação com uma família muito estruturada. Então temos esse elo muito forte. Na época em que saí de casa para buscar meus objetivos e o Miguel para buscar os dele, sempre estivemos próximos. E estar trabalhando com ele é sempre um prazer porque sou fã dele. O considero um ator estupendo, pela idade, por tudo que já fez e dedicação que tem. Fico cada vez mais feliz e orgulhoso de ter escolhido essa profissão, que é a mesma do meu irmão e que bom nos encontrarmos mais uma vez na RECORD, porque somos sempre muito felizes aqui.
Em 2010, estiveram juntos em um mesmo projeto pela primeira vez. Como fica agora essa parceria em cena após quatorze anos?
Miguel: Em 2010 tinha a variável de ser também o primeiro trabalho, estávamos descobrindo também sobre o que era rotina da televisão e nos adaptando. Agora, temos uma certa experiência. Estamos em um processo de aprendizado eterno, mas nos sentimos mais à vontade com o veículo e conseguimos, talvez, experimentar coisas diferentes, trazer elementos que não tínhamos oportunidade na época. E acho que nos conhecemos mais também.
Fernando: A maturidade, porque cada um se conhece mais como pessoa e tem a confiança não só cênica, mas na vida. A gente vai evoluindo, aprendendo muitas coisas. 2010 ficou lá atrás, era o primeiro trabalho. Como o Miguel falou, era uma empolgação gigante, uma ansiedade também, pelo fato de conhecer grandes profissionais que sempre admiramos. No Sul, a gente brinca: ‘é a “cancha” que a gente acaba adquirindo nessa caminhada’. A diferença é essa.
Miguel está chegando a Reis, enquanto Fernando já está no projeto. Chegar ao projeto que seu irmão faz parte torna mais fácil a entrada nesse universo?
Miguel: Acho que sim porque já conhecia o Baasa desde quando ele começou a interpretá-lo. Nós temos um diálogo muito aberto, então participei muito da preparação dele. Sou apaixonado por épicos e História, era minha matéria favorita na escola. Então, como ator, sempre que há uma oportunidade de participar de um épico, bate diferente no coração. Está sendo um prazer e, obviamente, é um outro ambiente quando tem alguém da família, que a gente tem um sentimento muito forte. Fico muito mais à vontade tanto cenicamente quanto no ambiente mesmo. A gente já conhece a equipe, os diretores e alguns colegas, mas é um gostinho diferente estar em família.
Como flui o trabalho quando estão no mesmo projeto? Costumam estudar as cenas juntos?
Fernando: Temos nossas vidas particulares, mas temos a mesma profissão, muitos objetivos de vida bem parecidos, então trocamos muito. É uma segurança que eu tenho e o Miguel também de termos esse canal aberto de confiança e troca, com alguém que vai te dar um papo reto na hora que precisa ser dado. Não tem muito ‘dedos’, existe respeito pela construção de cada um, mas ao mesmo tempo existe essa ligação muito forte que faz toda a diferença.
Miguel: E a gente entende. A atuação e o ator são muito do momento, do resultado do que está acontecendo. Então, às vezes, antes de estar no projeto, lendo as cenas dele, eu dava pitaco. Aliás, essa troca é a mágica da atuação. Então é entender, por mais que a gente dê ou receba conselhos, é o olhar de um outro ator, são olhares diferentes e está tudo certo. Não tem certo e errado, é sempre uma colaboração. Tomara que tenha mais coisas do Baasa e do Elá para que a gente possa desenvolver.
A gente já conhece o Baasa e sabe que ele não tem uma personalidade nada fácil. E agora vamos conhecer o Elá. Sem muitos spoilers, como é essa relação?
Miguel: Assumo o Elá em uma fase em que ele é um soldado comandado pelo pai, e depois há uma passagem de tempo, com ele como príncipe e o Baasa, rei. Vejo no Elá um personagem que está em busca da atenção e uma valorização do pai. Não por eventualmente vir a ocupar um dia o papel de rei, mas uma valorização de quem ele é. Vejo uma mísera atenção desse pai com esse filho e esse reino, como de silêncios entre essa família. O silêncio pesa ali. Muitas coisas não são ditas.
E para você, Fernando? Como é essa relação inicial entre Baasa e Elá?
Fernando: O Baasa é muito focado. Ele tem os objetivos muito claros em relação à ascensão que quer dentro daquele ambiente em que ele está inserido. Ele serve a Jeroboão (Vitor Novello/Marcelo Valle) e pega uma ‘casca’, de ser um cara rude e forte, sem muito espaço para as emoções. E sinto esse vazio também em relação à família, acho que ele sofreu muito e que está mais preocupado com o reinado, com o objetivo. Na cabeça dele, a família tem que seguir os passos do pai, por ele ter o domínio do povo. Ele tem a energia mais focada na guerra, em garantir o poder e o reinado para a família. Espero que o Baasa e o Elá possam contar histórias para o público entender que tipo de relação de onde ele veio, qual era o passado desse personagem e como eles se moldaram até aqui.
É curioso para vocês interpretarem pai e filho?
Fernando: Acho extremamente maravilhoso porque tenho comigo um cuidado de pai com o Miguel. Mas é tão orgânico e natural, sem tirar a liberdade dele. Miguel é extremamente livre para fazer as escolhas dele, mas talvez por ser o irmão mais velho e pela educação que nos foi dada de muito amor e proteção, parece que estou revivendo quando o Miguel era um pouco mais novo e saímos de casa. Essa responsabilidade não de pai, mas de uma pessoa que tem um pouquinho mais de idade e que vai ser um porto seguro para ele trilhar o caminho com as pernas dele, obviamente. É um pouco meu isso.
Miguel: A gente saiu do Sul juntos para estudar em São Paulo. Na época, o Fernando ainda estava com a carreira no futebol. Mas lembro de responder em uma entrevista muito jovem que o Fernando é um ‘pai-irmão’ para mim. E isso é engraçado porque usei esse termo várias vezes. Curioso agora ser visto desta forma, ver isso cenicamente, essa metalinguagem acontecendo.
Na mudança para São Paulo, vocês eram muito jovens e seus pais continuaram no Sul. Fernando assumiu essa figura paternal para o Miguel?
Fernando: Acabei assumindo, mas não por uma imposição dos nossos pais. Tinha esse pedido, mas eles também se preocupavam comigo. Acho que foi mais na questão do cuidado e da proteção por ser mais velho que o Miguel, porque ele sempre foi muito responsável, até mais do que eu em algumas coisas. E que bom que fizemos essas escolhas, e que bom que eu pude fazer um pouquinho, no início, esse papel de “pai” ou de um irmão mais velho para ele poder tomas as decisões mais tranquilo.
Miguel: Até porque olhando friamente, meus pais não iam me deixar, com 13 anos, morar em São Paulo sozinho. Embora com idades diferentes, [Fernando tinha 18] tínhamos o mesmo impulso de buscar nosso lugar no mundo e que aconteceu muito jovem para a gente. Acho que tem coisas que deveria ter vivido ali e fui forçado, no bom sentido, a viver agora. Mas às vezes tenho pensamentos e motivações de viver coisas que não vivi lá. Acho que era uma preocupação de fazer acontecer. Não digo uma pressão que deixe você inerte, mas uma vontade de viabilizar aquilo. A gente é transformado por cada decisão, mas ali, mesmo que não tivesse dado certo, teríamos ganhado muitas outras coisas, como de fato ganhamos.
Após os trinta, a relação de vocês ainda é assim? Fernando tem realmente um lado mais paternal ou Miguel também tem?
Fernando: Faz uns cinco anos que a gente não mora na mesma casa. Acho que o Miguel é mais ‘meu pai’ agora. A gente se equilibrou bastante. Amadureci muito, comecei a ter mais paciência com a vida. Agora não consigo mais ver ele como um jovem em busca do seu sonho, da mesma forma que eu era, acho que a gente equalizou realmente. Agora assentamos essa questão de irmãos.
Miguel: A maturidade trouxe esse diálogo mais fácil. A gente sabe o espaço e a personalidade de cada um. Ele sabe como eu sou e sei como ele é, nos respeitamos, mas isso também não limita a comunicação. Não vou dizer que [a relação] é melhor porque sempre foi boa.
Fernando: Mesmo não morando na mesma casa, é o elo familiar e de confiança de saber que o Miguel vai me dar um papo e não dizer o que eu quero ouvir. Ele vai me dizer o que ele realmente sente. Hoje em dia, estamos mais tranquilos um com outro, respeitando os espaços, porque também celebramos o nosso silêncio. Mas sempre que podemos estar perto tomamos um café.
No que a arte contribui para a relação de vocês?
Fernando: Contribui em tudo porque somos dois artistas cheios de desejos, tanto na direção quanto de roteiro. É uma relação ‘ganha ganha’, que sempre vamos alimentar um ao outro.
Miguel: Desde o primeiro momento que a gente saiu de casa, se olhar para trás para as primeiras memórias, já envolviam ambientes sociais com arte. Os nossos momentos de fazer amigos, eram ambientes que tinham arte como princípio, que moviam essas relações, e a gente também estava se descobrindo como irmão. Quando começo a construir essas memórias, elas sempre vêm ancoradas com essa parte artística. Nosso processo de crescimento veio junto com esse exercício da arte, então é uma relação que se retroalimenta.
Qual o principal aprendizado que o Miguel te traz e vice-versa?
Miguel: Acho que tem que ser vista como uma qualidade que é a facilidade de o Fernando ter uma visão um pouco mais reativa com o que está vindo na direção dele. É isso o que mais aprendo com ele, a maleabilidade de jogar com o que recebe da vida. Como na minha vida sempre tive certeza do que ia fazer, é um exercício entender que essas curvas não são um erro de percurso.
Fernando: Acho que é a disciplina com a vida, admiro muito isso nele e ele sabe. Não é que me falte disciplina, mas admiro o planejamento que o Miguel tem com a vida e a carreira desde muito novo. Ele sempre teve foco em ser artista e sempre admirei essa luta dele. Ele se transforma em um homem cada vez mais seguro daquilo que quer e consegue ter cada vez ter mais esse ‘flow’ que ele fala, que é uma característica muito forte em mim. Somos iguais em vários aspectos, bem diferente em outros, mas temos uma relação de respeito.
Descubra como será o reinado de Baasa em Reis — A Emboscada, que já está disponível no Univer Vídeo. Para rever todos os episódios das temporadas anteriores, é só acessar o PlayPlus.com.