Frederico Amaral: percurso artístico e raízes açorianas
Palco Record|Do R7
No mais recente episódio do ‘Palco’, da RECORD EUROPA, a apresentadora Rita Rosado recebeu o ator açoriano Frederico Amaral para uma conversa intimista e inspiradora. Ao longo da entrevista, Frederico compartilhou sua paixão pela arte de representar, revisitou momentos marcantes do seu percurso artístico e refletiu sobre a ligação profunda entre as suas raízes e a forma como vive cada personagem.
Falou ainda sobre o desafio físico de dar vida ao icônico Lurch (Tropeço no Brasil), na versão portuguesa do musical ‘A Família Addams’, da experiência pioneira da série que o lançou na televisão, e ainda da participação especial na produção internacional ‘Rabo de Peixe’, gravada na sua terra natal.
Rita Rosado: Frederico, vamos falar sobre a representação que há tantos anos faz parte da tua vida. Todos os dias te apaixonas por esta arte?
Frederico Amaral: Sem dúvida alguma. A arte faz parte da vida de toda a gente. Claro que, para mim, é um orgulho enorme poder ter escolhido e contemplar esta profissão e ter encontrado o meu propósito de vida. Acima de tudo, é isso, nós lutarmos pelo nosso propósito.
RR: Eu li numa entrevista que tu deste onde tu dizes que a tua formação foi aquilo que te preparou para a guerra. Como é que tem sido enfrentar esta guerra?
RA: É maravilhoso. É um passo de cada vez. Eu não gosto de chamar de carreira, gosto de chamar de percurso artístico, digamos assim. Que começou nos Açores, desde que fiz uma peça de teatro de amadores. E a paixão foi crescendo e depois fui para o Porto estudar Interpretação na Academia Contemporânea de Espetáculo. E foi aí que tudo começou. Que era uma escola, que era uma família, um lugar onde eu pude explorar toda a minha faceta humana e de ator também.
RR: Sentes que vais buscar a certeza de que estás a fazer a coisa certa com as pessoas que te veem, quando recebes os elogios delas?
RA: Sim, sem dúvida que o público é importante, porque nós trabalhamos para o público. Sem o público, isto não fazia sentido, tanto o público que nos assiste na televisão, como o público que vai ao teatro. É importante sentirmos que temos uma casa cheia, que as pessoas estão lá para ouvir aquela história. E adoro este desafio de poder, em cada projeto, fazer uma personagem diferente, ter uma maneira de falar diferente, um andar diferente. Eu gosto muito de explorar este lado físico das personagens.
RR: Sim, e a verdade é que até o teu sotaque açoriano — mesmo aqui na entrevista — notei que começaste com um sotaque menos marcado, e agora está a ficar cada vez mais presente. Imagino que, nas personagens, isso seja difícil de gerir.
RA: Não, agora já é algo muito natural, o clique de mudar e guardar o sotaque no bolso. Mas no dia-a-dia, eu sou assim, eu sou o Frederico, nasci nos Açores, portanto o meu sotaque é este. Mas consegui, ao fim de três anos, limpar o sotaque e poder brincar com os sotaques.
RR: Tens-te surpreendido em cada papel que tens feito?
RA: Sim, sim, até bastante. Eu estreei-me na televisão a fazer um papel de açoriano, micaelense, portanto acho que estava ali a nadar em bons mares, eu conseguia dominar. Estava na minha praia, ainda por cima uma vertente cômica, que é algo que eu gosto muito, fazer comédia, é onde eu me sinto mais um peixinho na água. Mas gosto de me surpreender e fazer também o tipo de papéis dramáticos, um pouco de tudo. Acho que um ator tem que ser versátil e saber jogar com o que tem. Mas tenho tido algumas personagens que me têm dado muito prazer. Estou a fazer o papel de Lurch, que é uma personagem muito conhecida, e o desafio desta personagem é perceber como é que tu crias uma personagem que é silenciosa… se eu tivesse que dizer qual é a filosofia do Lurch, seria ser leal a esta família, mas em silêncio. Este é o grande desafio, estás numa peça em que não falas, só grunhes. Portanto, eu achei que ele tinha que ganhar por outra forma, ou seja, o lado físico — a expressão que é quase nula — mas tentei usar o meu corpo em função desta personagem. E então, isto está-me a dar muito prazer, porque quis criar aqui uma coisa diferente, que me sai do pelo, que eu acabo em água. Mas é algo que me dá muito prazer fazer.
RR: Falemos então desta ‘Família Addams’, esta família tão excêntrica e tão conhecida lá de casa. Como é que tudo acontece naquele palco?
RA: Acima de tudo, é um espetáculo arrojado, excêntrico, com muita qualidade. Diria que é talvez o espetáculo musical com mais qualidade neste momento em Lisboa, porque tem muitos ingredientes bons, tem excelentes cantores, o cenário é inacreditável. Aliás, a versão da Broadway — que agora foi traduzida para português — é muito boa, portanto a tradução também foi muito bem feita. Temos cantores fantásticos, atores também, e eu acho que a conjugação disto tudo, e a encenação do Ricardo Neves-Neves, a força de produção, a Sandra Faria… este conjunto todo faz desta peça um grande espetáculo. Nota-se que os atores estão felizes a fazer aquilo.
RR: Falamos de outra personagem tua, o Rena, que é uma personagem também muito característica, e que também tem o teu lado cômico. Esta personagem também foi uma personagem querida para ti?
RA: Sem dúvida, foi a minha estreia em televisão, e depois era uma série com algumas características diferentes, era gravada em 360 graus, portanto, a câmara ia atrás dos atores, foi inovador para a altura. E depois a minha personagem, foi muito ‘fixe’, porque eu diverti-me tanto, deu-me tanto prazer. Depois eram as situações, eram muito caricatas, muito cômicas, e eu fazia aquilo que me dava mais prazer, falar com aquele sotaque, a parte física também, andava atrás das miúdas, foi muito ‘giro’! E pronto, e saquei a miúda mais gira do elenco que hoje em dia é a minha mulher.
RR: Falamos agora de uma produção internacional, muito famosa, que toda a gente já ouviu falar, o ‘Rabo de Peixe’, que tu também fizeste parte.
RA: Sim, fiz uma pequena participação. Na minha terra, a trabalhar também com açorianos. O realizador, Augusto Fraga, também é açoriano. Foi uma grande oportunidade, o papel era pequeno, mas para mim encheu-me as medidas, e é isso que interessa.
RR: Esta tua raiz tão forte, açoriana, que tu trazes contigo a nível pessoal, é a mesma força que tu trazes contigo para a tua profissão?
RA: Eu acredito que sim, porque eu penso sempre que as nossas personagens têm uma grande percentagem do que é o ator, e de onde é que ele nasceu, de onde é que ele vem. Portanto, eu acho que toda esta mística e toda esta parte cultural que vive dentro de nós, que tem a ver com os meus ensinamentos, com o que eu aprendi, com os meus avós, rodeado de mar, naquela terra feita de lava, isto corre nas veias. Portanto, eu acredito que toda esta base, estes alicerces estão no ator e que de uma forma, às vezes, tão natural que nem percebemos, e passa para as personagens. E eu acho que isso é muito bonito. E acho que isto embeleza as figuras e as personagens.
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