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‘Anónimos de Abril’: as vozes esquecidas da liberdade

Palco Record|Do R7

Neste episódio do ‘Palco’, a apresentadora Joana Xará, foi conhecer o projeto ‘Anónimos de Abril’ — uma homenagem emocionante aos rostos menos conhecidos da resistência à ditadura em Portugal. Idealizado por José Fialho Gouveia e Rogério Charraz, o projeto nasceu como espetáculo musical e evoluiu para disco e livro, resgatando histórias reais de coragem e sacrifício.

Nesta entrevista, os criadores refletem sobre a importância de manter viva a memória dos 48 anos de repressão, usando a música como forma de aproximar o passado das novas gerações.

[Entrevista originalmente exibida no programa ‘Palco’, da RECORD EUROPA]

Joana Xará: Falamos aqui deste projeto que resgata a memória e histórias de desconhecidos que lutaram pela nossa liberdade. Que projeto é este?

José Fialho Gouveia: Este projeto chama-se ‘Anónimos de Abril’ e é exatamente isso. Começou por ser um espetáculo, um concerto, onde fizemos 14 canções originais em que homenageamos homens e mulheres que tiveram um papel determinante na luta pela liberdade, mas que não são aqueles nomes dos quais se fala todos os anos. Ficaram um bocadinho mais esquecidos nos rodapés da história. Entretanto, o concerto esteve na estrada no ano passado e agora ganha forma de disco e livro.

JX: São histórias reais. Podemos falar do caso específico da Branca Carvalho, que está homenageada na música ‘Mariana’, que é uma história de resiliência. Ela teve a oportunidade de ouvir esta canção e de dar a sua aprovação. Qual é que foi a reação desta homenageada?

Rogério Charraz: Foi engraçado, porque no caso dela aconteceu uma outra coisa, ela foi ver o espetáculo do Tivoli na estreia, em janeiro do ano passado, sem saber nada. Portanto, acho que foi bastante emocionante para ela. Nós, entretanto, criamos uma amizade muito bonita. Quando fomos tocar em Viana do Castelo o ano passado, que é a terra onde mora a Branca, ela convidou-nos para ir à casa dele no final do espetáculo. Fizemos uma ceia muito bonita e calorosa. Mas é isso, acima de tudo, este é um projeto que tem despertado muitas emoções.

JX: Qual foi a sua história mais especial para vocês?

JFG: É difícil, porque todas elas são muito impactantes. Acho que há uma que é de uma humanidade tremenda, que é a história da Herculana Carvalho e do Luís Carvalho, um casal da burguesia do Porto, com bons contatos, com figuras proeminentes do regime. O filho, Miguel da Costa Carvalho foi preso, foi enviado para o Tarrafal, e os pais conseguiram aquilo que mais ninguém conseguiu, que foi a autorização para ir visitá-lo em Cabo Verde. E nessa viagem, o que é que eles fazem? Fotografam todos os presos do campo de concentração. O Luís, fotografa também a Herculana a depositar ramos de árvores nas sepulturas daqueles que já tinham morrido. E depois, no regresso a Portugal, vão contactar as famílias dos presos e entregar-lhes essas imagens. Estamos falando de gente que não tinha uma imagem visual do filho, do sobrinho, há muitos anos. Portanto, essa história é de uma humanidade tremenda, mas todas elas têm uma coisa [em comum] que é um altruísmo gigantesco, gente que arriscou a vida e, em alguns casos, pagou mesmo com a vida para lutar pela liberdade, para lutar para isto, para nós podermos estar hoje aqui falando em liberdade.

JX: De que forma é que este projeto vai relembrar também, às novas gerações, o valor da liberdade?

JFG: Não podemos deixar morrer este tema, não podemos deixar que caia no esquecimento, que aqueles 48 anos de ditadura caiam no esquecimento.

RC: Este é um assunto que pode ser falado em qualquer momento do ano. A música tem esta capacidade de manter as coisas vivas e próximas das pessoas. Este é um dos grandes objetivos deste projeto.

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