Uma viagem musical com Leo Middea
Palco Record|Do R7
No episódio mais recente do ‘Palco’, da RECORD EUROPA, a apresentadora Joana Xará recebeu o cantor e compositor Leo Middea para uma conversa profunda sobre música, identidade e jornada artística. Nascido no Rio de Janeiro, Leo encontrou na distância física do Brasil uma nova forma de se reconectar com as suas raízes musicais, e é justamente essa travessia — geográfica, pessoal e criativa — que conduziu esta entrevista.
O artista revisitou momentos decisivos da sua carreira, como a primeira viagem de ônibus até Buenos Aires, os álbuns que funcionam como retratos vivos de diferentes fases da sua vida e a decisão de se fixar em Portugal. Leo revelou o verdadeiro propósito da sua arte: ser uma presença contínua, quase etérea, na vida das pessoas — um protesto poético contra a impermanência.
Joana Xará: A tua história musical começa no Rio de Janeiro, mas, curiosamente, floresce fora dele. Qual foi aquele momento em que tu percebeste que a tua arte tinha de ganhar o mundo para fazer sentido?
Leo Middea: Eu sempre tive uma relação muito forte com essa vontade de estar pelo mundo. Minha primeira experiência fazendo concertos, por exemplo, foi na Argentina. A primeira vez que eu fiz um concerto a solo foi em Buenos Aires. E aquele concerto me fez ter uma sensação de explorar outras culturas, tocar para outras culturas. Então sempre foi meio que uma ‘pulga atrás da orelha’ de querer fazer algo assim. Até que teve um momento que eu falei: “Não, acho que eu vou me jogar um pouquinho por alguns meses, vou lá para Portugal, ver o que acontece, como é que é o mercado.” E aí, eu fiquei.
JX: Tu disseste que, estando fora do Brasil, conseguiste ter uma maior ligação com as raízes brasileiras. De que forma é que esta distância também te aproximou da Música Popular Brasileira?
LM: Acho que quando a gente observa algum objeto à distância, a gente consegue sentir outras coisas que, quando a gente está dentro, não consegue. Então eu acho que essa minha distância do Brasil, naquele momento, me fez ver algumas coisas dentro de mim, valorizar coisas dentro de mim, que eram de raízes brasileiras e que eu não conseguia ver tão bem quando eu estava lá vivendo aquilo tudo.
JX: Tu tens vários álbuns que falam sobre a tua trajetória. De que forma é que cada um deles traduz todas estas mudanças?
LM: Cada álbum é uma fase muito específica da minha vida e isso é muito legal de ver. Às vezes – uma vez por ano, ou a cada dois anos – eu tento escutar de novo os álbuns, porque eles são umas fotografias nítidas, de cada período da minha vida. Eu tenho cinco discos. No meu primeiro disco, eu tinha 18 anos, as composições eu fiz com 17, com 16. E como eu compus aquilo, eu consigo sentir muito forte dentro de mim aquelas escritas, aquelas canções, aquelas melodias. E cada disco é uma fase, né? Então agora que eu estou produzindo um outro disco, é uma outra fase. No futuro, eu vou olhar para trás e entender esse momento que eu estou agora também.
JX: Eu tenho que falar sobre o momento em que tu, com 18 anos, foste de ônibus até Buenos Aires. Mais de 50 horas de viagem, com um disco na mão, com sonhos no peito. Como é que olhas para esse menino agora?
LM: Eu acho completamente maluco. Eu falo: “Como você foi fazer isso?”. Quando eu puxo essa memória, desse momento, eu lembro de estar muito feliz. Para mim foi uma experiência muito boa que eu carrego com muito carinho, mas olhando para trás eu penso: “Não sei se eu conseguiria fazer um negócio desse agora”. Pegar 50 horas… É que naquela época, eu não tinha dinheiro para pegar um avião, então era de ônibus mesmo, era o que tinha.
JX: Qual é o teu verdadeiro propósito com a música?
LM: Eu sempre fiquei pensando sobre isso, do motivo de eu fazer canções. E eu gosto muito de um escritor do Brasil, chamado Ariano Suassuna. E teve uma entrevista que ele falou que só escreve, só faz arte, porque ele nunca conseguiu aceitar a morte. Então é um protesto contra a morte. Então eu faço música para ser escutada, talvez, para estar nesse lugar no ar, nesse lugar etéreo, de poder estar presente na vida, na casa das pessoas cada vez mais.
Últimas